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25 de abr. de 2012

F/A-18 - Um “Vespão” de Ferrão Afiado e Olhos Bem Atentos



















Herdeiro da tradição de aeronaves de combate que reúnem em um mesmo conceito robustez e versatilidade, o Boeing F/A-18 E/F Super Hornet tem uma folha de serviço de veterano, mas, ostenta impecável forma de um jovem cadete. Essa “disposição ao front” dá-se graças a um competente programa de incorporação constante de atualizações, upgrades e novas tecnologias. Em 2006, o F/A-18 concluiu o programa de substituição do Grumman F-14 Tomcat, aeronave imortalizada no filme Top Gun – Ases Indomáveis, e responsável por despertar a vocação de toda uma geração de aviadores. A missão de substituir uma lenda não era das mais fáceis, porém, o êxito do projeto foi tal que, não só re-equipou a linha de frente de combate da Força Aeronaval Americana, como também, elevou sobremaneira a capacidade de multi-funções da aviação da US Navy e do Marine Corps.

Dois motores com custo inferior a um F-16

Da criação deste caça multirole, até os dias de hoje, a Boeing tem conduzido uma modernização tão completa e significativa que as aeronaves em operação na atualidade revelam um novo avião, se comparados aos primeiros a entrar em serviço¹, seja no aspecto de aerodinâmica e desempenho em voo, aviônicos, motorização, radar, sensores, links e integração de diferentes sistemas de armas, o que culminou em uma impressionante eficiência e disponibilidade, que resultaram em um custo operacional por hora voada cada vez mais reduzido.

No quesito manutenção e disponibilidade, os números estatísticos são de chamar a atenção. Com apenas 3 níveis de manutenção, o avião permanece em missões por mais tempo e, chegado o momento de cumprir os programas mais complexos de revisão ou reparos, retorna muito rapidamente à linha de voo. Para se ter uma idéia, uma troca completa de motor dura menos de 60 minutos com a utilização de apenas 4 tipos de ferramentas de uso padrão, e o reabastecimento e armamento para uma missão de escolta, por exemplo, não excede os 35 minutos, com o envolvimento de não mais que sete profissionais, entre manutenção e material bélico.

A versatilidade e robustez do “conjunto da obra” podem ser ilustradas com duas características curiosas: as distâncias mínimas para operações de pouso e decolagem, e a ausência de qualquer limitação do regime de potência. O caça da Boeing armado com 2 AIM-9 Sidewinder e 2 AIM-120 AMRAAM decola em apenas 440 metros e pousa em 780 metros (2)¹ . Praticamente em uma “pista de aeroclube”. Quanto ao uso dos motores, nenhuma restrição quanto a limitações de regime. Pode-se se ir direto do idle a full afterburner (ou seja, da “marcha lenta” à máxima potência de pós-combustão) sem medo de danos às turbinas, ou falha de resposta.

Quanto à discussão sobre as vantagens e desvantagens de um caça com um ou dois motores, principalmente levando-se em conta o custo operacional, e em uma realidade de restrições orçamentárias, é importante comentar sobre os números aos quais DefesaNet teve acesso. Eles revelaram a partir de relatórios oficiais que, nos dias de hoje, o custo de uma hora de voo de um Super Hornet, uma aeronave equipada com 2 motores F414-GE-400 que oferecem 44.000 lbs de empuxo, é mais barato que o de um F-16, caça monomotor da General Dynamics Lockheed Martin equipado com um turbofan F110-GE-129 no Block 50, ou o F100-PW-229 no Block 52, que disponibilizam 29.588 lbs e 29.160 lbs de empuxo, full afterburner respectivamente.
          
Um veterano em constante estado da arte

Do mais recente incremento de novas tecnologias, saído da linha de montagem em St. Louis, Missouri, nos Estados Unidos, a incorporação de pods de armamentos e tanques conformais que se estendem ao longo da fuselagem, incrementam a capacidade aerodinâmica e dão o toque Stealth – capacidade furtiva – ao Super Hornet, reduzindo ainda mais a já baixa RCS frontal – assinatura radar.

A evolução no cockpit, e que até já foi apresentada no Brasil, tem como ponto alto o LALCD – Large Area Liquid Crystal Display, com função touch-screen, que reduz em muito o work load do piloto, uma vez que traz de forma condensada, integrada e intercambiável todas as informações nas diferentes configurações operacionais (navegação, combate ar-ar, ar-superfície, data link, TFLIR, monitoramento de sistemas e motores, etc.), e por substituir vários displays, traz também a vantagem da redução do custo por unidade.
          
O conceito Locked – Loaded – Linked definido pela equipe industrial do projeto na Boeing, pode ser bem compreendido ao se utilizar os sistemas integrados embarcados em conjunto com os recentes pods de designação de alvos, bombas inteligentes e mísseis de última geração (o que fizemos na condição SIM em voo e nos exercícios de treinamento no simulador). A harmonia entre armas e informações de SA – situational awareness, consciência situacional – fornecidas pela atuação combinada do radar APG-79 AESA – Active Electronically Scanned Array, ou radar de varredura eletrônica ativa, o JHMCS – capacete com sistema de aquisição de alvos integrado, IRST e ATFLIR – rastreamento e visualização de alvos por infravermelho, respectivamente – junto ao MIDS (Link-16) asseguram a este “Vespão” que seu ferrão continue bem afiado e seus olhos bem atentos.
          
A definição de multirole do Super Hornet vai bem além do conceito técnico da expressão, uma vez que além do desempenho de funções múltiplas “normais”, pode assumir até mesmo a função tanker, reabastecendo em voo outras aeronaves, sem que para isto seja necessária qualquer conversão ou alteração de sua estrutura ordinária ou sistemas.

O F/A-18 é uma aeronave altamente testada, com a incrível marca de 166.000 horas em combate. A estrutura de cada caça prevê um ciclo de vida da ordem de 9.500 horas de voo, e a permanência em serviço ativo do modelo na Marinha Americana será, a princípio, até 2035. A futura incorporação do JSF – Joint Strike Fighter – F-35, está concebida dentro da operação conjunta com o Super Hornet, onde a relação do inventário seria de 2 F/A-18 para 2 F-35, atuando concomitantemente.
          
Esse é o Boeing F/A-18 Super Hornet, e nós voamos a versão F na Base Naval de Oceana, Virgínia. A primeira vez de uma equipe de jornalismo especializado estrangeira em voos de teste no espaço aéreo dos Estados Unidos da América.

O “nosso” Esquadrão

A forma com que os oficiais comandantes nos recepcionaram já anunciava o padrão de todos dentro do VFA-106 Gladiators, um alto nível de profissionalismo aliado a uma gentileza e boa vontade constante em nos oferecer amplo acesso aos mínimos detalhes do Super Hornet. Tivemos a clara percepção de que, a distinta maneira com que fomos integrados ao grupo, reflita o momento de pré-disposição do Governo Americano em estabelecer laços de parceria com o Brasil, em um nível mais amplo e aprofundado.

O VFA-106 Gladiators, sob o comandado do CDR (Commander, posto equivalente à Capitão-de-Fragata) Scott Knapp, é responsável pela conversão, treinamento e adaptação de pilotos nos F/A-18C/D e nos Super Hornet F/A-18E/F que voarão na Frota do Comando de Caça e Ataque da Força Aeronaval do Atlântico, CSFWL, que tem como seu Commodore, o CAPT (Captain, posto equivalente à Capitão-de-Mar-e-Guerra) Paul Gronemeyer. A estrutura da SFWL – Strike Fighter Wing Atlantic – é a maior da Marinha Americana, com 18 unidades voando mais de 300 aeronaves, sendo seis variantes do F/A-18 Hornet e Super Hornet. Fica baseada em Oceana e abriga também a SFWSL – Strike Fighter Weapons School, Atlantic – que conduz o Strike Fighter Advanced Readiness Program (SFARP), uma espécie de pós-graduação em táticas e sistemas de caça e ataque, na qual os pilotos passam duas semanas estudando, primeiramente em suas próprias unidades, 18 conteúdos que abrangem sistemas de armas da aeronave, táticas e seu emprego no F/A-18, tudo conduzido por um instrutor designado da SFWL. Alcançada a aprovação nesta fase, as tripulações tem mais uma semana, onde realizam os primeiros cinco voos de 15, do SFARP, para depois seguirem para a NAS Fallon onde poderão aprimorar em enfrentamentos com “adversários” suas habilidades para as futuras operações reais.

O padrão de excelência é mantido com constância, a fim de manter as tripulações prontas ao emprego imediato em terra ou embarcadas em porta-aviões, seja quais forem as condições de tempo, dia ou noite, parte do trabalho do oficial de operações, CDR John "Gabby" Wise, um grande camarada e excelente piloto (vocês poderão ler sobre isso no artigo sobre meu “engajamento” com Gabby no treinamento no simulador em rede).

(1) Do F/A-18A/B e C/D Hornet, carinhosamente chamado de Legacy - legado, ao Super Hornet F/A-18E/F há uma longa estrada, e que ainda não chegou ao fim. Destaque-se aqui a grande confusão do público em geral quanto aos “F’s”. A aeronave em disputa no FX-2, em curso, é o F/A-18E/F, que tanto embora tenha absorvido toda a experiência obtida com o pequeno Hornet, é um completo redesenho sobre o conceito original, tendo uma estrutura 25% maior e mais eficiente, mais potência e uma suíte de aviônicos de última geração. Desfeita qualquer confusão, ainda assim, o Super Hornet F/A-18E/F já mudou muito, e continua sempre incorporando novas tecnologias.

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